Então vamos lá falar de vergonha na cara
Andam por aí umas pessoas que não conhecem este projecto, não se dão ao trabalho de passar por aqui nem ponderam sequer a hipótese de esclarecer qualquer dúvida que tenham directamente comigo via e-mail. Em contrapartida são peremptórias em afirmar que eu devia de ter vergonha na cara. [desculpa RL, nós as duas já falamos e havemos de ir lanchar um dia destes mas achei o comentário da Ana Gomes de tal maneira desagradável que optei por prestar os esclarecimentos que considero devidos aqui].
Então vamos lá com calma:
Eu comecei a trabalhar em regime de part-time com 18 anos enquanto estudava em simultâneo. Conclui a minha primeira licenciatura com 21 anos. De seguida, como queria continua a investir na minha formação, optei por conjugar um trabalho a tempo inteiro com mais um trabalho em regime parcial e, deste modo, frequentar a minha primeira pós-graduação. De seguida, mudei de emprego porque, na altura o ordenado que me pagavam era superior àquele que recebia nos dois outros locais onde trabalhava e, deste modo, consegui suportar os custos inerentes ao mestrado onde me inscrevi [sendo certo que por razões várias só conclui a parte académica do mesmo o que equivale a uma pós-graduação]. Portanto sempre a trabalhar e sempre a estudar. Com 26 anos, compro a minha casa [claro que podia ter ficado em casa dos meus pais até aos 70 anos, mas convenhamos. Fartos de trabalhar estão eles e o terem-me pago a primeira licenciatura foi a melhor ajuda que me podiam dar. Também podia vir para aqui dizer que gente que asila em casa dos pais até aos 40 anos devia ter vergonha na cara e não o faço].
Dois anos mais tarde, arranco para aquilo que seria mais uma etapa de um percurso há muito delineado e inscrevo-me para fazer uma segunda licenciatura. Está feita. Pelo caminho, por motivos profissionais, senti que valia a pena investir numa pós-graduação mais conducente com a área de actividade e assim foi.
Resumindo, eu trabalho desde os 18 anos de idade [tenho 36], todo o subsídio de férias, de Natal, reembolso de IRS foi empregue na minha formação em Portugal [duas licenciaturas e três pós-graduações. E não. Não conclui nenhuma delas a um domingo] e sustento-me para o bem e para o mal vai para 10 anos.
Ora acontece que há um dia em que penso que com 36 anos [e considerando que a idade mínima para efeitos de reforma se mantém tal qual como está] ainda tenho mais 30 e tal anos de trabalho pela frente. E nesse dia decido continuar a cumprir o sonho que sempre tive e em vez de ficar confortavelmente instalada com a vida que tenho, decido que está na altura de ir estudar para fora do país. E começo a fazer contas à vida e percebo que gastei tudo o que tinha. E nesse dia olho em volta e percebo que a única coisa que tenho é o recheio da casa. E durante uma semana pensei no assunto. E depois houve um dia em que aqui cheguei com um sonho numa mão e o recheio da casa no outro à procura de gente que quisesse ficar com as minhas coisas.
Portanto, queiram desculpar, mas têm a certeza que essa conversa do “vergonha na cara” é comigo.