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Take us to Bruges

Take us to Bruges

12
Out13

Até já.

Maria

Neste momento estou no Haiti. Alguns de vós já o deverão saber, outros nem por isso. A verdade é que não gostaria de deixar de ter presente na minha vida pessoas que tanto me ajudaram e me quiseram bem. Deixo-vos o link para a minha página pessoal de FB. Querendo, é aparecer. Serão mais do que bem vindos. Até já.

 

https://www.facebook.com/susana.ca.pedro

 

01
Jul13

A resposta do Ministério dos Negócios Estrangeiros já chegou.

Maria

A resposta do Ministério dos Negócios Estrangeiros já chegou. Não representa o desfecho por todos esperado mas não constitui surpresa face à forma como a entrevista foi conduzida. O representante do Colégio da Europa desde o primeiro minuto até ao último reiterou que não compreendia por que razão uma pessoa, com 39 anos, 2 licenciaturas e 3 pós-graduações queria ir estudar para o Colégio. Estou em crer que terá prevalecido o seu entendimento na decisão final.

 

Não venho aqui falar nem de tristeza, nem de desilusão, nem de sentimento de frustração. 

 

Depois de ter estado dois dias sozinha a digerir tudo isto, entendo que não vale a pena perder tempo com coisas ou sentimentos que acrescentam muito pouco aos nossos dias. Até porque na vida só se levanta quem caiu e só caminha quem sabe para onde vai.

 

Hoje venho aqui, isso sim, falar de gratidão. Daquela que tenho a todas as pessoas que acarinharam este projecto e que me ajudaram. A todos vós, o meu muito, muito, obrigada.

 

Este foi um projecto de 3 anos que não teve o desfecho esperado, é verdade, mas nem por isso representa uma porta que se fecha. Há inúmeras universidades por esse mundo fora. Agora é respirar fundo e começar à procura de bolsas de estudo que, conjuntamente com o montante arrecadado, me permitam continuar a estudar e concretizar o tão almejado mestrado. Um ano, dois, leve o tempo que levar.

 

Destes 3 anos fica a convicção de que vale sempre a pena correr atrás daquilo em que se acredita, que tentar é a palavra-chave em tudo na vida, mesmo quando desafiamos todas as probabilidades. Fica também a certeza de que a blogosfera está pejada de gente que tem a capacidade de se entusiasmar e galvanizar com os sonhos dos outros. Por isso vos agradeço.

 

 

Dizer-vos por fim que este blog termina aqui. Quem quiser continuar a acompanhar-nos será sempre muito bem-vindo à nossa página de FB.

 

 

 

 

 

 

 

 

* A todos os colegas admitidos, os votos de um excelente ano académico. 

29
Abr13

Journey of the Heart.

Maria

A entrevista de admissão ao Colégio da Europa foi hoje. Ia nervosa, não escondo. Para mim não se tratava de mais uma entrevista nem o meu espírito era o de "se não entrar aqui, entro ali". Contrariamente aos meus colegas de entrevista, eu não tenho um plano B, eu não estava ali por ter acabado a licenciatura há pouco tempo e, à falta de emprego, ter feito a opção de continuar a estudar. Tudo argumentos mais do que legítimos, diga-se de passagem, e sem ponta de ironia lhes desejo, a todos, a melhor sorte. Quem me dera a mim que há 18 anos [altura em que acabei a minha primeira licenciatura] fosse tão fácil ir estudar para fora do país, como é hoje. Seguramente que teria feito a mesma opção. Acontece que a vida nem sempre corre como gostaríamos e há projectos que vamos adiando pelos constrangimentos que se nos colocam. É um facto. Nada a fazer.

 

Os membros que compunham o painel de júri foram de uma correcção absoluta. Agora como é que se explica que apesar de 2 licenciaturas e 3 pós-graduações temos a noção absoluta que as oportunidades de progressão na carreira em Portugal estão esgotadas e que uma formação de elevado prestígio numa Instituição como o Colégio da Europa é um investimento profissional. Um investimento sério, num formação de excelência que seguramente nos permitirá encarar o mercado de trabalho internacional com outra segurança, outros conhecimentos.

 

E foi aqui que a meu ver as coisas talvez possam ter corrido menos bem. O Senhor que representava o Colégio da Europa repetiu-me over and over [tendo a gentileza de referir que os meus 39 não relevavam para o caso] que não percebia. Não percebia como é que uma pessoa com as minhas qualificações académicas se estava a candidatar ao Colégio. Foi de uma simpatia, extrema, é verdade, mas continuava insistentemente a fazer-me a mesma pergunta.

 

Espero sinceramente ter conseguido esclarecê-lo e espero, por tudo, que esse não venha a ser o argumento de exclusão (até porque, embora suspeita, estou em crer que o desempenho prestado foi bom). Por uma razão muito simples: eu não posso excluir nem omitir as habilitações académicas que tenho e que adquiri sempre a trabalhar e com um esforço enorme e sacrifício pessoal. Não faz sentido. Para mim não faz sentido. Bom, mas agora resta-me aguardar pelos resultados.

 

Esta maratona de 3 anos termina aqui. Agora já não depende de mim. Contudo, seja qual for o desfecho (e vai ser positivo porque eu acredito que o mérito e a dedicação compensam) gostaria de vos deixar a todos, todos vós que de há 3 anos a esta parte sonham este sonho comigo, um enorme abraço de gratidão. Obrigada. Muito Obrigada. Pelo carinho, pela ajuda. Por tudo.

 

Voltaremos aqui quando houver novidades [espero que boas] Até lá vamos estando pelo Take us to Bruges Facebook

 

31
Dez12

...

Maria

 

Em 2012 aprendi que posso viver sem água, sem luz, sem internet, sem rede telefónica, sem televisão, sem comer carne de vaca, carne de porco, fiambre, peixe, bolinhos, salgados, pizzas e afins, que o mundo não acaba nem eu morro por causa disso. Aprendi que as pessoas têm uma capacidade de adaptação na adversidade que muitas vezes nem sabem. Que a cada momento somos capazes de nos superar e surpreender. Que, num ano e meio, dois pares de calças e cinco t-shirts servem perfeitamente. Que a Terra é um lugar imenso e que vale a pena ousar, sonhar, ir mais longe e determinarmo-nos por aquilo em que acreditamos. Aprendi que a saudade é das coisas mais difíceis de gerir e que a distância nos dá a exacta percepção de quem é quem na nossa vida. Em 2012 segurei na mão de Deus e confiei. Nele e em mim. Não me arrependi.

27
Dez12

Pois que já cheguei a Portugal, sim.

Maria

Ainda em modo alien, mas já cá estamos. 

 

Por aqui, tudo na paz, quer dizer mais ou menos. Como tenho a minha casa arrendada por um preço simbólico à madrinha do meu gato e na perspectiva de ir uma ano para Bruges já em Setembro acabei por arrendar também a um preço baixinho a casa de um amigo. Lá em Timor, com troca de mails para aqui, troca de mails para ali, fiquei convencida de que era chegar e desencaixotar. "Amiga tens lá uma casa que tem tudo. Tem esquentador, frigorífico grande, uma mesa, uma Tv, um sofá e uma cama". Eh pá e para quem andou um ano e meio a viver na montanha, de facto, não é preciso mais nada. Homens pá, Homens. Não percebem patavina do que é uma casa a funcionar.

 

Já arranquei a pele das mãos com tanta lixívia, já tenho as articulações a dar o berro com tantos banhos de água fria [o raio do esquentador desliga-se a meio, pá. Lá vai uma pessoa a praguejar que nem um trolha, cheia de shampoo dos pés à cabeça, pela casa fora, a pingar água por tudo quanto é sítio para voltar a ligar o dito cujo], o frigorífico só funciona pela metade [a parte de cima está viva, a de baixo - congelador - já morreu faz tempo] a TV dá espasmos sempre que se carrega no botão [me-do], os estores estão encravados e tenho duas tigelas debaixo do lava loiças. Tudo em bom, portanto. 

 

No meio disto tudo, e porque as inscrições para o Colégio já estão abertas, ando numa roda viva a recolher cartas de ex-professores, a traduzir certificados [beijinho enorme, assim de coração, ao Ângelo e à Marta que me estão a ajudar] a autenticar certificados [um abraço cheio de gratidão para a Maria que se ofereceu para o fazer] e sei lá mais o quê. 

 

O gato, está óptimo. Primeiro estranhou [tipo agora estou amuado] mas gato que é gato não resiste aos mimos de uma dona apaixonada [e é impossível este bicho não saber e sentir o quanto lhe quero e o amor que lhe tenho]. E é isto minha gente. Ainda com a vida encaixotada mas a mil. Assim que puder respondo aos vossos e-mails e passo lá nos vossos blogs para saber de vós e deixar-vos um abraço. 

21
Dez11

...

Maria

Bom dia a todos,

 

Escrevo-vos porque, à semelhança, do que se passou há seis meses, queria partilhar convosco e que soubessem em primeira mão como vão as coisas por aqui. Depois de ter trabalhado arduamente no recenseamento eleitoral e ter passado por experiencias mirabolantes neste longínquo Timor Leste onde tudo falta e a realidade e tão diferente de todas aquelas que já conheci, eis que se aproximam as eleições. Iremos ter eleições Presidenciais em Marco (já vamos com 8 candidatos à Presidência da Republica) e eleições para o Parlamento Nacional em Junho (para 65 lugares no Parlamento já temos 23 – sim leram bem, 23 – partidos candidatos às eleições. Posto isto, recebi há 3 semanas uma proposta por parte das Nações Unidas para continuar a minha colaboração como voluntaria por mais seis meses.

 

Se é um facto que, para quem gosta de trabalhar em eleições, como é o meu caso, o ponto alto e mais estimulante deste trabalho está para chegar, a verdade é que também não faço questão de me desviar dos propósitos iniciais do meu projecto: ir estudar um ano para Bruges. Na vida por muito bom que seja o momento que estejamos a viver e por muito gratificante que seja a experiência e até potenciadora de futuras oportunidades, convém não esquecer que findas as eleições, toda a minha gente volta para casa. Por isso ponderei. Na tomada de decisão pesou o facto de bolsas de estudo concedidas pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros, à semelhança do que sempre aconteceu todos anos, nem vê-las. E se era certo e seguro que todos os anos o prazo de candidatura às bolsas começava sempre no princípio de Novembro e terminava a 15 de Janeiro, este ano o site continua em branco (como podem ver: http://www.mne.gov.pt/mne/pt/Bolsas.htm) e embora já tenha tentado contactar o MNE a informação que me deram é a de que, em princípio, se pensa que as bolsas irão continuar a ser concedidas, sim, que está para breve, mas a verdade e que bolsas nem vê-las.

 

Ora as candidaturas ao colégio para 2012 estão prestes a terminar. Terminam dia 15 de Janeiro próximo: http://www.coleurop.be/template.asp?pagename=admisintro e a questão e tão-somente uma: não vale a pena estar a apostar numa candidatura quando sei que do ponto de vista financeiro não estão reunidas as condições (e este é logo um dos requisites do Colégio, saber se em caso de admissão há condições, ou não, para pagar). Acresce que esperar mais um ano também não é dramático atendendo ao trabalho que neste momento estou a desenvolver e que poderá ser uma mais-valia numa futura candidatura.

 

Em suma, decidi, depois de obtida a autorização do sitio onde trabalho em Portugal, ficar mais seis meses, enriquecer o meu CV com esta experiencia enquanto Observadora Internacional (mais concretamente o nome pomposo que dão ao que estou aqui a fazer e Legal and Voter Education Electoral Adviser) e, em Julho, quando regressar, então aí retomar o projecto Take us to Bruges e inscrever-me no ano lectivo de 2012 – 2013. Contudo, se vocês que estão aí, com acesso a internet todos os dias e a velocidade cruzeiro, souberem ou tiverem alguma informação relativamente às bolsas de estudo para o Colégio da Europa por favor façam a gentileza de me informar.

 

Aproveito também para vos dizer que em Janeiro serei transferida do distrito de Maliana para o distrito de Manufahi, por isso voltamos aquela dinâmica de encaixotar as coisas, procurar casa em Same (a minha próxima morada), encontrar casa por lá (vai ser outro filme do caneco) e mudar-me. Se algum de vós tiver por lá algum contacto que me possa ajudar prometo que vos levo daqui um crocodilo de madeira. De referir que em Same – Manufahi só há internet quando o rei faz anos e na esquadra da UN Police (em Maliana temos escritórios das NU mas em Manufahi não, nada, nicles. Uma linha telefónica, uma linha de internet e sempre que precisar de levantar dinheiro para comer ou de ir ao médico, digamos que são para aí 3 horas a conduzir. Tudo em bom portanto. A única coisa assim positiva que me ocorre é o facto de em Same haver peixe fresco, coisa que já não como vai para quase 5 meses).

 

Por fim, algo de que não falo muito porque me custa, porque me dói, porque desde o primeiro dia é e será, até ao dia em que sair daqui, o meu calcanhar de Aquiles: o Sebastião. Esta óptimo como podem ver nas fotografias (basta seguir o link), contínua lindo e é mimado ate mais não. Se me faz falta? Todos os dias. Se hoje tenho a certeza de que o protegi e salvaguardei ao não traze-lo comigo? Tenho.

 

Envio-vos de Timor um abraço sem distância, embrulhado em carinho e gratidão com os votos de que tenham um Santo Natal e um Ano Novo com tudo de bom.

 

Beijos para quem é de beijos e abraços para quem é de abraços.

22
Jul11

...

Maria

 

As malas e as despedidas estão feitas. Telefonei a quem queria e abracei quem me foi possível. Daqui a sete horas estarei a caminho de concretizar um sonho que me levou vinte anos a cumprir. Hoje, olho para trás e sei que valeu a pena. Cada privação, cada dificuldade, cada noite sem dormir, cada levantar do chão, valeu a pena. E cada alegria, cada meta cumprida, cada objectivo alcançado, cada pequena vitória, valeu a pena. E todos vós. Pessoas que não conheço e a quem nunca abracei mas que fizeram vosso este meu sonho de vida. Vós que caminharam ao meu lado. Vós que levo dentro do peito para o outro lado do mundo. Vós que estarão junto a mim quando os meus pés pisarem aquela terra.

 

FRI 22JUL LISBON PT FRANKFURT DE 06:55H 10:55H

 

FRI 22JUL FRANKFURT DE SINGAPORE SG 12:35H 06:30H

 

SAT 23JUL SINGAPORE SG DILI TL 09:25H 14: 20H

 

 

Encontramo-nos em Díli lá para Domingo. Até já. Para o caminho só queríamos levar estas bolachas fantásticas feitas pela Carlota mas já não fomos a tempo. No regresso cános esperam. 

 

 

 

Novidades é lá na nossa página do FB. Até já.

10
Jul11

Voltamos daqui a seis meses. Até já.

Maria

Toda a gente que por aqui passa e que nos acompanha desde o início sabe que o meu sonho tem um nome. Chama-se ONU. E que esta coisa de colocar tudo à venda com o propósito de ir estudar para o Colégio da Europa tinha em vista isso mesmo: chegar um dia às Nações Unidas.

 

Agora, digam-me lá, vocês lembram-se da minha ida ao programa da Querida Júlia, certo. Então sentem-se que eu tenho uma história para vos contar.

 

Ora no dia seguinte ao do programa, já refeita dos nervos [que isto de fazer directos televisivos arrasa com uma mulher], estava eu a caminho do emprego quando toca o telemóvel: Muito bom dia, daqui fala Joaquim Figueirinha, da UN Volunteers e queria dizer-lhe que foi pré-seleccionada para a nossa missão em Timor, com vista à preparação e acompanhamento do acto eleitoral de 2012.

 

Eh pá, pois que na altura até pensei que fosse um amigo meu a gozar comigo por ter ido à televisão, do tipo apanhados. Mas não, chamada internacional, tudo muito profissional. Ai pessoas, comecei a tremer, a tremer, a tremer e as lágrimas a caírem-me pela cara abaixo, vocês não estão a ver bem a cena. Quando desliguei o telefone senti cá uma falta de ar e uma vontade de rir e chorar ao mesmo tempo, tudo ali em segundos, e desatei a correr rua fora com as mãozinhas levantadas para o céu e só dizia Obrigada Senhor, Muito Obrigada.

 

Seleccionada. Eu. Nem queria acreditar, até porque há anos que me tinha inscrito na bolsa de voluntários e nunca tinha sido chamada.

 

Bom, e-mail para aqui, e-mail para ali, burocracias do caneco e eis que passo à fase seguinte. Foi a loucura. Mais e-mail para aqui, e-mail para ali, burocracias do caneco e eis que temos entrevista agendada via telefone [e em inglês] para dia tal às 9 horas da manhã. Nesse dia levantei-me eram cinco horas da matina para treinar o inglês em voz alta. Às oito quando me enfio na banheira pensei, ok deixa-me cá tomar um banho e arranjar-me para estar fresquinha quando os senhores ligarem. Ora estava eu toda cheia de shampoo e gel de banho quando me toca a porra do telemóvel. Vocês não estão bem a ver a coisa. Fiz a entrevista toda a pingar e a limpar espuma dos olhos com o gato de roda de mim. Fui entrevistada por três pessoas e sempre em inglês.

 

Depois esperei quinze penosos e longos dias quando recebo um e-mail a dizer: parabéns, passou à fase seguinte [gente aquilo é fases que nunca mais acaba]. E vai de receber uma série de papelada para tratar e exames médicos para fazer, mais uma série de requisitos para cumprir e eis que na semana passada, pessoas, sai a decisão final: fui seleccionada, sim, e tenho que estar em Díli dia 23 de Julho.

 

Eu ao serviço das Nações Unidas como Voluntária, por seis meses. O sonho de uma vida. Vinte anos a querer muito isto, a sonhar tanto com isto, a trabalhar todos os dias por uma oportunidade destas. Bem sei que é como voluntária, sei disso, mas vai ser uma experiência do camandro e depois quem sabe, outras oportunidades vão surgir.

 

Mas, uma vez que sou funcionária pública, não bastava os senhores das Nações Unidas quererem-me lá. Era preciso que os dirigentes do local onde trabalho me autorizassem a saída. Vai de esperar mais uns dias. Papel para cá, papel para lá, que se eu não morri a semana passada com os nervos nunca mais morro. E eis que já no fim da semana sai a decisão final, que sim, tudo bem, podia ir por seis meses. Nem queria acreditar.

 

Só que esta não é uma felicidade plena. Assim que esta perspectiva de ir para Timor ia ganhando forma tratei logo de começar a ver tudo o que seria preciso para levar o gato. Passaporte, documentos, recolha de informação junto das companhias aéreas, essas coisas, porque na minha santa ingenuidade e desconhecimento nunca me passou pela cabeça que ele pudesse correr riscos numa viagem desta natureza e, como sempre disse, para onde eu fosse ele iria também.

 

Só que não. A primeira nega veio logo da veterinária dele, que é também veterinária municipal. Digo-te já que não vejo isso com muitos bons olhos mas ainda assim vou informar-me melhor na Direcção Geral de Veterinária sobre essa situação. Uma coisa é viajares com ele para Bélgica ou qualquer outro país da Europa [excepção feita ao Reino Unido, claro] outra é levares o Sebastião para a Ásia e, ainda por cima, para Timor. Mas eu vou informar-me.

 

Dias depois tinha a resposta dela. Nem pensar. Em Timor ainda há raiva e mesmo vacinado não está isento de risco. Nem pensar porque teria que ir no porão e a viagem dura dois dias e eu não vou dar-lhe uma anestesia de cavalo. Nem pensar porque numa viagem tão longa há fortes probabilidades de ele contrair uma insuficiência renal ou hepática e em Díli não tens meios para o tratar. E, ainda que eu compactuasse com essa loucura toda de o quereres levar para o outro lado do mundo por seis meses, nem pensar porque nos termos do Regulamento Comunitário 998/2003 há fortes probabilidades de, no regresso, aquando da entrada no espaço europeu ele ficar retido no primeiro aeroporto [sendo que nenhum deles seria o de Lisboa] para quarentena [e saca-me do artigo 14º do Regulamento]. Eu chorei baba e ranho mas nada.

 

Em desespero [a Dra. Maria João que me desculpe e por favor tão pouco se sinta ofendida que eu confio em absoluto no seu trabalho] contactei um outro veterinário, mais concretamente o Prof. Joaquim Henriques de quem tenho as melhores referências em busca de uma segunda opinião e de uma luz ao fundo do túnel, uma solução. Nada. Tudo igual. Nem adiantou fazer beicinho e virem-me as lágrimas aos olhos. Levei com um “a minha obrigação é salvaguardar e preservar a saúde do Sebastião por muito que isso lhe custe e por muito que vocês nunca se tenham separado os dois. Agora se o quiser levar é por sua conta e risco”. Só faltou dizerem-me para encomendar o caixão, credo.

 

Mas, ainda assim, vai de ligar para a embaixada, só para saber, até porque já tinha andado a ver companhias aéreas de transporte de animais. Não aconselham de todo. Falei com a Sra. D. Alexandra que me disse, também ela ter passado por este dilema e ter optado por deixar o seu gato com os pais. Um desespero.

 

Confesso que nos primeiros dias e de cabeça perdida cheguei a ponderar a hipótese de não ir e recusar esta oferta. Levei tempo a habituar-me à ideia de ter que embarcar sozinha. Nós nunca estivemos um sem o outro, nunca. Mas com o tempo e com a ajuda dos amigos lá decidi que seis meses passam depressa e que esta é uma oportunidade única. Por isso, por muito que me custe [e se tenho amigas daquelas em bom com quem o vou deixar e que sei que lhe vão encher o cu com mimo], optei pela saúde e pelo bem-estar dele [complicado foi mesmo gerir os ciúmes das preteridas, mas pronto]. 

 

Quanto ao dinheiro arrecadado mantém-se a lógica de sempre. Fica guardado e será gasto em formação no estrangeiro. A verdade é que encarei sempre o Colégio da Europa como uma forma de chegar à ONU e agora lá chegada, depois da missão, irei decidir se o Colégio continua a fazer sentido ou se é mais vantajoso para mim optar por uma especialização na área dos Direitos Humanos ou Direitos dos Refugiados, por exemplo. Nessa altura, e já depois de ter passado por esta nova experiência, irei ponderar qual a melhor formação, onde aplicar o dinheiro que consegui com a ajuda de todos vós e se esta fantástica viagem continua em direcção a Bruges ou se apontamos caminho para Haia ou Genebra.

 

Por tudo isto, este nosso Take us to Bruges vai ficar suspenso até ao meu regresso a Lisboa. E se esta tem sido uma jornada incrível com todos vós ao meu lado, aquela que se seguirá será seguramente ainda melhor. Deixem-se ficar por aqui. Próxima paragem: Timor, ao serviço da United Nations Volunteers.

09
Jul11

No dia 15 de Maio de 2010 escrevia-se assim

Maria

O meu sonho tem um nome

 

Explicar a razão de ser de um sonho que acalentamos desde criança é quase tão complicado quanto explicarmos a essência de que somos feitos. Eu nunca quis ser polícia, artista de circo, super-herói. Nunca partilhei as vocações dos outros meninos porque eu, desde que me lembro se ser gente, que digo que quero correr o mundo. É este o meu sonho: correr o mundo. Lembro-me de as pessoas comentarem que eu era uma menina com a mania das grandezas e de os meus pais responderem “isso passa-lhe”. Lembro-me do primeiro Atlas que o meu avô me ofereceu e de me ensinar os nomes dos países. Lembro-me de a Professora Manuela, no liceu, dizer que eu daria uma belíssima médica e de na Faculdade se fazerem apostas em como seria a primeira do grupo a ascender à magistratura. Lembro-me de a minha avó me dizer que de um sonho não se desiste, não se abre mão, custe o que custar e leve o tempo que levar.

 

Hoje, continuo a acalentar o mesmo sonho com a vontade redobrada de quem investiu e investe tudo o que tinha e tem nele. Toda a formação, todo o dinheiro, todo o tempo, o melhor de mim, mesmo nos momentos em que parece que nada faz sentido e em que equacionamos se não seria mais fácil, menos duro, sonhar outra coisa qualquer. O meu sonho tem um nome. Chama-se ONU e um dia, um dia, eu hei-de cumpri-lo.

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mas que sonho é esse que tu tens, Maria?

I have a dream que, para já, passa por Bruges, mais concretamente pelo College of Europe. Acontece que um Master of Arts in EU International Relations and Diplomacy Studies lá em Bruges é coisa para me deixar penhorada por sete gerações. Ora como eu não tenho onde cair morta e estou longe de vir a herdar o que quer que seja, não me resta outra alternativa que não seja vender o recheio da casa. Quem quiser ajudar, basta divulgar.
Eu e o gato agradecemos.

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